quinta-feira, 30 de junho de 2011

VIAGEM


Chego de madrugada,
mais dormindo que acordada,
cansada da longa estrada
que caminhando percorri...
Sei que faz parte da vida,
trilhar caminhos,
curar feridas
e abrir portas
como eu abri.

domingo, 19 de junho de 2011

Quando eu morrer

Quando eu morrer
não quero que me enterrem
numa cova muito profunda...
Quero misturar-me à terra
e torná-la mais fecunda.

Quero que plantem sobre mim
um pé de ipê ou flamboyant...
Acho linda a ideia
de renascer flor no amanhã...

Talvez  nos meus galhos
queiram cantar os passarinhos...
Quem sabe ali possam
construir seus belos ninhos...

Quem dera pessoas amigas 
possam à minha sombra descansar
e que, caindo em seus cabelos,
minhas flores venham lhes enfeitar... 

quinta-feira, 16 de junho de 2011

NINA


Dez de janeiro, de 2010...
Domingo chuvoso, sombrio de temporal...
Perdemos Nina, nossa cachorra menina.
A dor dilacera o poeta,
mas não lhe tira a rima...

O céu chora lá fora,
choramos nós aqui dentro,
em profundo sofrimento...

Pena, fosses tão jovem
tantas flores ainda para comer...
Tantos buracos a cavar...
Tantas brincadeiras a fazer...

Quem vai lamber os meus pés,
me deixando indignada,
quando, com meus sapatos novos,
eu estiver saindo apressada?

Quem vai deitar-se na porta,
me obrigando a pular por cima,
com jeito displicente
de atrevida menina?

Quem vai ansiosamente
aguardar pelo lixeiro,
latindo tão alto e forte
que se ouvia
no bairro inteiro?

E a sua inseparável companheira,
a velha pincher Babi,
como reagirá sem você por aqui?

Ficará ainda mais rabugenta
pela saudade mordida,
mas como nós aprenderá
a curar sua ferida.

Dizem que quem tem
a chave do céu é São Pedro
e ele, sabendo da sua rebelde alegria,
acreditou que fosse útil
para acabar com a monotonia.

Os querubins andavam
meio fora de forma por lá,
 meio entediados,
sem ter com o que brincar,
mas com a sua chegada
tudo isso irá mudar...

 Ah, Nina! Seu olhar sempre tão terno,
sua alegria genuína...
Nunca a esqueceremos,
vá com Deus boa menina!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

JULGAMENTO


Coisa que eu não gosto e que me deixa ofendida
é quando alguém usa dois pesos e duas medidas:
quando é o outro que erra é sempre grave e sem perdão,
porém se o erro é seu “foi só uma distração”!

Creio que esta pessoa se julga superior
diverte-se criticando os outros
sem constrangimento ou pudor.

Acho mesmo que lhe dá até um certo conforto...
Antes que percebam seu erro, aponta logo o dos outros!

Mas logo minha raiva arrefece,
meu coração desta pobre alma se compadece,
pois compreende como é triste a sua miséria...
Ver sempre no copo a metade vazia,
em vez de elogiar e semear alegria.

domingo, 5 de junho de 2011

Reciclagem


Lixo que vira arte.
Arte que vira decoração.
Para reaproveitar muitas coisas,
basta ter imaginação!

Além de imaginação
e um pouco de paciência,
reciclar demonstra bom senso,
preocupação e consciência.

Consciência de que o planeta
não é uma lixeira sem fundo...
Cada lixão a menos,
é um bem a mais pro mundo.

É uma idéia que todos
devem abraçar com carinho,
se não puder  convencer muita gente,
ao menos convença o vizinho.

Dia Mundial do Meio Ambiente - Carta do Chefe Seattle

Carta do Chefe Seattle

"O que ocorrer com a terra,
recairá sobre os filhos da terra.
Há uma ligação em tudo."

Este documento - dos mais belos e profundos pronunciamentos já feitos em defesa do meio ambiente - vem sendo intensamente divulgado pela ONU (Organização das Nações Unidas). É uma carta escrita, em 1854, pelo Chefe Seattle ao presidente dos EUA, Franklin Pierce, quando este propôs comprar grande parte das terras de sua tribo, oferecendo, em contrapartida, a concessão de uma outra "reserva".

Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, com é possível comprá-los? Cada pedaço desta terra é sagrada para meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra da floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência de meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho.
Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do potro, e o homem - todos pertencem à mesma família.
Portanto quando o Grande Chefe de Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós. O Grande Chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não será fácil. Essa terra é sagrada para nós.
Essa água brilhante que escorre nos riachos não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se que ela é sagrada e devem ensinar as suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida de meu povo. O murmúrio das águas é a voz de meus ancestrais.
Os rios são nossos irmãos e saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção da terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra aquilo de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.
Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreenda.
Não há lugar quieto na cidade do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar das flores na primavera ou o bater das asas de um inseto. Mas talvez porque eu sou um selvagem e não compreenda. O ruído parece somente insultar os ouvidos. E o que resta da vida se um homem não pode ouvir o canto solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo.
O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio verão limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros.
O ar é precioso para o homem vermelho pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Como um homem agonizante há vários dias, o homem branco é insensível ao mau cheiro. Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que mantém. O vento que deu a nosso avô seu primeiro aspirar também recebe seu último suspiro. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados.
Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais dessa terra como irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo outra forma de agir. Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de um trem ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo, que sacrificamos somente para permanecermos vivos.
O que são os homens sem os animais? Se todos os animais se fossem, os homens morreriam de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontecerá com o homem. Há uma ligação em tudo.
Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas: que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos.
Isto sabemos: a terra não pertence ao homem, o homem pertence à terra. Isto sabemos: todas as coisa estão ligadas como o sangue que une a família. Há uma ligação em tudo.
O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.
Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo.
Veremos. De uma coisa estamos certos e o homem branco poderá vir a descobrir um dia: nosso Deus é o mesmo Deus. Ele é o Deus do homem, e Sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco. A terra lhe é preciosa, e feri-la é desprezar seu criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo que todas as tribos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos.
Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruídos por fios que falam. Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a águia?
Desapareceu.
É o final da vida e o início da sobrevivência.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Espetáculo



Há quem esqueça os dedos e só valorize os anéis...
Na verdade, às vezes, é difícil não confundir os papéis...
O angustiado manipulador, tentando aplacar sua dor,
culpa as marionetes pelos nós nos carretéis...

Os ventríloquos, às vezes,
também padecem do mesmo mal:
hostilizam seus bonecos, se na apresentação,
não lhes agrada o diálogo final...

E os fantoches? São todos? Somos todos?
Qualquer um?
Ao final do espetáculo, o manipulador
aturdido e cansado, ordena aos bonecos
cessarem o "zum-zum-zum"...
Já não tem mais certeza da própria identidade
e, num gesto de insanidade,
quer dividir com eles a última garrafa de rum...